As noções de maternidade e paternidade, felizmente, mudaram significativamente ao longo do tempo. Hoje, elas representam mais do que a tarefa de proporcionar condições socioeconômicas aos filhos: é necessário ser presente na vida deles.
E, em tempos de internet, redes sociais, trabalho remoto etc., os pais têm se deparado com a famosa falta de tempo. Por conta do paradigma da modernidade – esse estilo de vida apressado, que nós já conhecemos tão bem –, passar um momento de qualidade com os filhos virou raridade. Os afazeres do dia a dia acabam influenciando a rotina e, no final, não sobra tempo nem para fazer uma pausa e brincar com as crianças. Mas será que não há uma maneira de reverter isso?
A psicóloga do Colégio Positivo Maísa Pannuti nos diz que a resposta para essa pergunta é sim: “muitas famílias acham que a presença na vida dos filhos se dá somente naquele momento em que sentam e passam um longo período de tempo brincando ou conversando, dedicando-se única e exclusivamente à criança ou ao adolescente. Porém, considerando os afazeres da vida moderna, torna-se necessário adaptar. É possível passar esse tempo de qualidade fazendo atividades rotineiras, por exemplo”.
Por conta da dificuldade dos pais de realmente dedicarem tempo de qualidade aos filhos, as crianças e os adolescentes não estão sendo ouvidos. Cenas em que pai ou mãe estão ao lado da criança mexendo no celular, respondendo e-mails de trabalho etc. são cada vez mais comuns. Os filhos não estão sendo escutados de fato. E, ao ouvi-los com atenção, as famílias conseguem perceber as reações, os comportamentos, os interesses e, principalmente, as dificuldades. Dessa forma, se torna possível ajudá-los no que for preciso.
A psicóloga Maísa lista quatro dicas de como se tornar presente na vida e na educação dos filhos nos tempos modernos e de pandemia.
1- Compartilhar momentos de afazeres da casa
Cozinhar, limpar a casa, lavar a louça e dobrar as roupas limpas são atividades que devem ser feitas de qualquer maneira. Então, por que não torná-las um momento em família? Elas podem ajudar os pais a passarem um tempo de qualidade com seus filhos, promovendo a conversa, o riso, a noção de pertencimento da criança em relação à família, além do cuidado com a casa e a responsabilidade que ela adquire ao realizar essas tarefas. Então, a dica é: coloquem a mão na massa juntos! Respeitando a faixa etária da criança, é claro. Cuidar dos animais, molhar as plantas, enxugar a louça, dobrar a roupa que é retirada do varal e tirar o pó são atividades que podem e devem fazer parte da vida da criança e que estabelecem uma cumplicidade dos filhos com os pais, além do aproveitamento do tempo.
2- Ser presente não significa fazer por ele
É importante ter em mente que a presença dos pais não significa que eles devem fazer tudo pelos filhos. Muitas famílias acreditam que ser presente é ajudar a qualquer custo, por exemplo, fazer a tarefa de casa pela criança porque ela está com dificuldade. Isso é um equívoco e pode ter consequências ruins para o futuro da criança, principalmente em relação à sua autoestima. Ao fazerem isso, os pais estarão ensinando que seus filhos não são capazes de fazerem sozinhos. Dê suporte, mas nunca realize as tarefas por ele!
3- Organização no isolamento
Além da questão da modernidade, hoje, ainda temos um agravante: a pandemia. É bastante difícil conciliar as responsabilidades do dia a dia, que aumentaram significativamente nesse período, com a atenção aos pequenos. No entanto, é por ser complexo assim que se faz necessária a organização. A psicóloga Maísa aponta que “quando organizamos nossa rotina, conseguimos dedicar tempo a todas as atividades que precisamos fazer, o que inclui passar um tempo de qualidade com os filhos”. A dica que ela dá é: não misturar as atividades de trabalho com os momentos de vida pessoal. Saber separar essas duas coisas é essencial para organizar a rotina de maneira saudável para si e para os filhos.
4- Entenda quais são os limites
O fato de os filhos passarem mais tempo com os pais nesse período pandêmico é inegavelmente algo bom. Nunca os pais se viram tão dentro da escola como agora. No entanto, a escola também veio para dentro de casa, o que dificultou consideravelmente a definição de limites. Muitos pais não conseguem mais enxergar os limites entre casa e escola, e acabam interferindo na vida escolar de seus filhos de modo que pode prejudicá-los, causando problemas futuros de insegurança e autoestima. Por isso, as famílias e a escola devem repensar esses limites: “até onde a criança tem autonomia para fazer uma pergunta por si mesma, para dizer à professora que não entendeu, se ela tem o pai ou a mãe ao lado para falar por ela? O limite deve ser repensado principalmente no sentido de mantê-lo, pois ele é necessário”, finaliza a psicóloga.
As consequências da presença materna e paterna podem ser decisivas para o futuro da criança. E o fato de a criança saber que tem um porto seguro para o qual recorrer pode ser essencial.