Escolas e professores estão sempre em busca da forma mais justa, honesta e completa de avaliar a aprendizagem dos alunos, mas ainda não conseguiram um mecanismo que dê uma devolutiva para estudantes e, especialmente, aos pais, mais eficiente que o boletim com as notas. “O número vai continuar existindo porque a escola precisa cumprir funções burocráticas”, critica o especialista em Educação Especial Rogério Cunha, professor de História do Colégio Positivo.
Para ele, então, cabe ao professor introduzir diferentes métodos de avaliação e equilibrá-los para formar uma nota que reflita melhor o grau de aprendizagem e o desenvolvimento do aluno – em vez de apresentar apenas o desempenho em provas de verificação. “A grande questão é uma mudança cultural que compreenda que aquele número não define na totalidade o aluno. Assim como nós não podemos ser definidos por número, essa relação não pode ser tão fria, tão racional, é uma relação que precisa ocorrer de maneira humana. A subjetividade pode fazer parte deste número, mas com cautela, porque ao se falar em subjetividade, está se abrindo mão de racionalidade. Por isso, precisamos buscar o equilíbrio para não haver supremacia de um sobre o outro. A escola já está compreendendo isso, mas ainda falta essa mudança cultural na família. Acredito que quando os alunos de hoje forem pais, as crianças terão muito menos cobrança sobre nota”, afirma.
Assim, além das provas, que servem para verificar se os alunos assimilaram determinado conteúdo, as avaliações periódicas devem mesclar trabalhos em grupo, seminários, trabalhos individuais ou qualquer outra atividade que sirva para verificar o conhecimento prévio da turma e individual sobre o conteúdo, analisar se a proposta pedagógica está funcionando com aquele grupo, corrigir rumos, em caso de necessidade e, no final do processo, sintetizar todas as informações coletadas no período.
“Trabalhar apenas com provas e notas e fazer uma média pode mascarar muita coisa. Um aluno que tira 9 em uma prova sobre multiplicação e 5 em uma sobre fração, vai ser aprovado com média 7, sem que tenhamos atenção para essa dificuldade dele em fração, que pode seguir pelo resto da vida escolar”, exemplifica. Por isso, muito além da cobrança pela nota propriamente dita, o papel dos pais é também analisar onde estão as dificuldades dos filhos e reforçar, também em casa, o estudo individualizado dos pontos de atenção.
Cláudio de Souza, professor de Matemática no Ensino Médio do Colégio Positivo, conta que uma das principais iniciativas dos docentes de sua unidade foi a nota livre multidisciplinar. “Envolvemos os alunos em projetos que utilizam conhecimentos de várias disciplinas. Em 2019, a atividade foi criar um barco com garrafas pet e atravessar uma piscina, utilizando os conteúdos de Física (empuxo e hidrostática), Química (cálculo da densidade de polímeros), Matemática (cálculo de área e volume) e Biologia (poluição causada pelos plásticos)”, explica.
Rogério Cunha acredita que, em breve, será possível fazer avaliações individuais do desempenho do aluno em cada processo da aprendizagem, mesmo quando o professor tenha centenas de diferentes alunos. “A tecnologia vai nos permitir isso. Hoje, as plataformas de Ensino a Distância já estão captando microdados e os analisando com inteligência artificial que produzem uma devolutiva sobre como está o rendimento deste aluno. O grande gargalo das escolas vai ser conseguir fazer essa coleta de dados, já que a gente ainda funciona muito no analógico. Mas vejo isso para os próximos 10 anos, quando o professor vai poder chegar à sala de aula e, mesmo sem nunca ter visto, saber todas as informações do aluno, individualmente, suas habilidades e dificuldades”, diz.