Neuroarquitetura. Embora não seja novo – os primeiros registros de trabalhos arquitetônicos com foco no bem-estar mental datam de meados da década de 1950 -, esse conceito tem se tornado cada vez mais necessário para o estilo de vida contemporâneo. Diversas pesquisas evidenciam a influência do desenho e organização dos ambientes nas emoções. Agora, um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que analisou dados sobre infraestrutura e aprendizagem coletados por uma pesquisa da UNESCO, mostra que até mesmo a infraestrutura escolar tem um papel fundamental no desempenho dos estudantes.
De acordo com esse levantamento, estudantes que frequentam escolas com bons ambientes apresentam melhor desenvolvimento. Espaços funcionais, bem iluminados e que estimulam a criatividade realmente ajudam na rotina escolar de crianças e adolescentes. E, bibliotecas, laboratórios e quadras esportivas estão entre os espaços com mais influência, sob esse aspecto. Além de preocupar-se com equipar muito bem esses ambientes, também é necessário pensar em como eles são planejados e utilizados no cotidiano. Revitalizar e dar nova destinação a locais subutilizados é importante para permitir que o processo de ensino e aprendizagem seja mais eficaz e prazeroso.
Para a arquiteta e urbanista Marilice Casagrande Lass Botelho, “proporções espaciais e iluminação corretamente aplicadas, ventilação apropriada, baixo índice de ruído e paleta de acabamentos compatível com as funções ali desenvolvidas geram espaços confortáveis e harmônicos”. Nesse sentido, os chamados “espaços de descompressão”, criados nos anos de 1990, são fundamentais.
Áreas verdes são indispensáveis para saúde mental
Os benefícios do contato com a natureza também são velhos conhecidos da ciência. Das casas de repouso que estavam sempre localizadas em meio a campos e matas, ao longo dos últimos séculos, aos estudos mais aprofundados que comprovam a relação entre meio ambiente e saúde mental, o denominador comum é a certeza de que o verde e o ar puro afetam positivamente os seres humanos.
Em parceria com a Universidade da Virgínia e o Centro de Resiliência de Estocolmo, a ONG The Nature Conservancy (TNC) desenvolveu uma análise das ligações entre qualidade de vida e contato com a natureza. Por meio da observação de estudos em saúde, meio ambiente e até economia, os pesquisadores concluíram que as grandes cidades têm um enorme potencial do que se chama de “penalidade psicológica urbana”, ou seja, aumento do estresse e de outros transtornos mentais. Outros estudos também já demonstraram que até mesmo poucos minutos de interação com ambientes naturais podem melhorar significativamente a saúde mental das pessoas. O mesmo se aplica às escolas.
Experiência prática
Convívio, lazer, ócio criativo. Tudo contribui para que o aprender seja potencializado. E os resultados são visíveis no humor e disposição dos estudantes, como observa a diretora do Colégio Positivo – Joinville, Patrícia Menezes Barcelos Corrêa. Ali, uma área ao ar livre que não estava sendo utilizada foi transformada em um ambiente multiuso para atividades esportivas, culturais e pedagógicas. “É um amplo espaço de convivência durante os intervalos e os professores também o utilizam para enriquecer as práticas pedagógicas em contato com a natureza, realizando contação de histórias e atividades esportivas”, explica.
No curto prazo, os estudantes aproveitam a área ventilada e ensolarada para lanchar, relaxar e conversar com os amigos. No médio e longo prazo, a ideia é que ela também ajude a tornar as horas de estudo mais produtivas e menos estressantes. “Temos percebido que as crianças estão menos tensas e mais animadas depois que começaram a utilizar esse espaço. Sabemos a importância disso para a aprendizagem e esperamos impactos ainda melhores ao longo do tempo”, completa a diretora.