Educação financeira para crianças e adolescentes

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African Mother And Daughter Putting Coins Into Piggy Bank At Home. Free space

Ainda não existe no Brasil uma cultura estabelecida com relação à educação financeira. Somente agora é que as famílias e as escolas estão, pouco a pouco, despertando para a importância de ensinar crianças e jovens a lidar de forma equilibrada e consciente com o dinheiro. Até porque muitos deles já têm conta em banco e acesso a cartão de crédito e outros recursos que os concedem essa “autonomia” financeira, para resolver situações simples de seu cotidiano, como comprar lanche na cantina.

No entanto, como explica Arnaldo Felipe Junior, professor de Matemática de Ensino Fundamental – Anos Finais e Ensino Médio do Colégio Positivo – Jardim Ambiental, embora a maioria dos alunos já realizem transações bancárias, muitos deles não têm noção do cenário geral, ou seja, não entendem o verdadeiro valor do dinheiro e tudo o que ele envolve (trabalho, salário, etc.). “Por isso, ter esse conteúdo consolidado na base é essencial para que as crianças e os jovens entendam esse funcionamento e cuidem melhor de seus próprios investimentos”.

Educação financeira nas escolas

Primeiro, é importante entendermos o que é educação financeira, exatamente. De acordo com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), trata-se do processo pelo qual consumidores e investidores melhoram sua compreensão sobre produtos, conceitos e riscos financeiros e desenvolvem habilidades para fazerem escolhas mais conscientes e benéficas. Ou seja, é um processo de base, que influencia todas as áreas, em todos os momentos da vida do indivíduo – e que, por isso, deve começar cedo.

De uns anos para cá, as escolas em geral têm se dedicado a incluir no plano pedagógico conteúdos e atividades relacionados ao tema. Nos colégios do Grupo Positivo, por exemplo, as turmas de 8º e 9º ano do Ensino Bilíngue contam com uma disciplina chamada Educação Financeira, a qual aborda a vida financeira de forma aprofundada, incluindo questões de juros simples e juros compostos. “Também estamos tentando implementar algum trabalho relacionado a investimentos”, complementa o professor Arnaldo.

Já entre os estudantes do Ensino Médio a educação financeira é desenvolvida dentro da própria disciplina de Matemática, em momentos específicos. Os conteúdos de estatística e de porcentagem, por exemplo, apresentam aspectos da vida financeira e ajudam os adolescentes a agir de forma mais criteriosa no cotidiano, que significa principalmente poupar dinheiro.

Consequências da falta de instrução

A educação financeira é tão importante que a falta dela pode trazer consequências sérias tanto no nível pessoal quanto no nível social – não é à toa que o Brasil desde sempre enfrenta problemas econômicos. Pessoas com pouca instrução nesse âmbito tendem a viver endividadas, porque gastam mais do que ganham, e não conseguem realizar muitos planos associados a seus objetivos de vida, o que termina em frustração e baixa autoestima.

Frustradas e desmotivadas, essas pessoas podem até mesmo desenvolver problemas psicológicos, como depressão. Inevitavelmente, essa condição transborda para o nível social, uma vez que a falta de capacidade de organização financeira restringe a circulação em certos lugares e impede a participação em eventos e projetos que poderiam inclusive movimentar ainda mais as finanças pessoais, pois essas são formas de estabelecer network e ampliar possibilidades.

“Uma pessoa bem organizada financeiramente acaba se destacando – não em termos de quantidade de recursos guardados, não no tamanho da poupança, mas em termos de confiança”, avalia Arnaldo. Para o professor, mesmo que determinado indivíduo tenha uma conta bancária menor do que outros, ele pode fazer muito mais coisas: com organização, qualquer um têm o poder de rentabilizar o próprio dinheiro e aumentar seus recursos.

Dicas para crianças, adolescentes – e adultos

Afinal, como ensinar educação financeira para crianças e adolescentes de uma forma simples e prática? Na escola, os estudantes têm, naturalmente, mais contato com esse tipo de conhecimento, mas e em casa, o que pode ser feito? Saiba que a família desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de cidadãos com discernimento em se tratando de orçamentos, gastos e economia. Confira estas dicas que o professor Arnaldo oferece:

PARA AS CRIANÇAS

  1. Compras no supermercado: quando for realizar as compras semanais ou mensais, leve seu filho com você e envolva-o no processo. Oriente-o a prestar atenção e a comparar preços, analisando o quanto certo produto vale em relação a determinada parcela e o que a despesa total das compras representa para a vida financeira da família (explique isso de forma apropriada para uma criança).

PARA OS ADOLESCENTES

  1. Poupança e investimento: converse com seu filho e incentive-o a poupar, guardar e investir o dinheiro que ele tiver. Um adolescente que guarda um pouquinho todo mês, ao longo do tempo – que de todas as variáveis que envolvem uma boa rentabilidade é a mais importante –, pode garantir uma aposentadoria confortável e até realizar algum projeto de longo prazo que exige um investimento significativo.

Um jeito organizado e até divertido de fazer isso é separar uma caixinha para cada “projeto”, seja ele de longo ou de curto prazo: aposentadoria, viagem, lazer, bens pessoais, etc. Essa ideia se ajusta bem a um planejamento financeiro porque motiva o jovem a economizar e ter uma visão mais abrangente sobre a própria vida. É interessante estabelecer o valor que se pretende guardar para si mês a mês.

PARA OS PAIS

  1. Exemplo para os filhos: antes de ensinar finança aos filhos, os pais precisam aplicar na própria vida as recomendações de educação financeira. Evite gastar desordeiramente e faça sempre questão de mostrar a seu filho que além de preço as coisas têm valor. Procure também, na medida do que for adequado, abrir aspectos da vida financeira da família para o filho, para que ele se sinta participante e corresponsável.

Tempo é dinheiro Dinheiro é tempo

O ponto crucial nesta história é entender que todos os bens que adquirimos e todas as experiências que vivemos são trocados por dinheiro e que todo o dinheiro que conquistamos é trocado por tempo. Tempo de vida. Ou seja, entregamos parte da nossa energia vital a esse processo dinâmico que depende do dinheiro. “Então, este seria um bom caminho: mostrar para os filhos que tudo o que se gasta, na verdade, não é dinheiro – é um pedacinho da vida”, conclui Arnaldo.

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